quarta-feira, 8 de setembro de 2010

SOBREVIVENTE EM BUSCA DE UM LAR

Dois anos após ser mordido por morcego, Marciano, primeiro brasileiro a vencer a raiva humana, precisa de ajuda

 A estrada não é das melhores. Do centro de Floresta, cidade do sertão pernambucano, até o destino final da viagem são mais de 40 minutos de carro por uma pista de asfalto esburacada e um caminho de barro tortuoso e cheio de obstáculos.

Fotos: Cecilia de Sá Pereira/DP/D.A Press
À medida que o carro avança, o sorriso cresce no rosto do garoto magrinho, acomodado no banco da frente, com a ajuda de travesseiros. Muitos sacolejos depois, o automóvel, enfim, para em frente a uma cerca de madeira. Por trás dela, algumas árvores, dezenas de barulhentos cabritos e uma casa rústica de tijolos. Lar, diz o coração de Marciano Menezes, doce lar.

Há dois anos, no dia 7 de setembro de 2008, o adolescente, hoje com 17 anos, foi mordido por um morcego. Naquele feriado, Marciano Menezes dormia numa casa parecida com a da fotografia desta página, a poucos metros dali, quando sentiu a mordiscada próxima ao tornozelo. Quatro dias depois, ele tomou a primeira dose da vacina antirrábica. Mas não recebeu o soro que poderia terevitado que a doença se instalasse. O garoto que tem nome de ser de outro planeta estava condenado à morte, dizia a lógica das evidências científicas. Mas ele venceu. E, como se não fosse mesmo deste mundo, se tornou o primeiro brasileiro a sobreviver à raiva humana.


Na casa no Centro de Floresta, longe do imóvel na Zona Rural onde foi mordido pelo morcego (terceira foto), Marciano brinca com os primos e se diverte assistindo televisão
Em setembro de 2009, Marciano voltou para Floresta. Não mora mais no campo - ou no mato, como diz seu pai, João Gomes de Menezes, sertanejo de 53 anos. Passa os dias e as noites em uma casa de alvenaria, piso de cerâmica, três quartos, banheiro, cozinha e sala. Tinha até ar-condicionado, mas o aparelho não está funcionando. A conta do aluguel, da energia elétrica e da água não é a família de Marciano quem banca. Nem o veículo para transporte do adolescente, a cesta básica mensal, a fisioterapeuta e a professora, que visitam Marciano em casa. Custos pagos com recursos da prefeitura e arrecadações feitas junto a funcionários da administração municipal e moradores da cidade, segundo a prefeita Rosângela Maniçoba.

Mas o que o jovem queria mesmo eravoltar para o mato, na zona rural de Floresta. Não retornou porque a casa não oferece condições de abrigar o menino. A começar pelas frestas nas janelas e no teto que permitem a entrada de morcegos. Ameaça que persiste.

Na casa do centro da cidade, Marciano passa o dia sentado no sofá, assistindo televisão. Na do campo, se acomoda sob uma das árvores, à sombra, de onde ouve o canto dos pássaros e vê os bichos passearem. Ri com os cabritos. Sonha com a possibilidade de voltar a andar. É lá, no mato onde foi criado, que o adolescente se sente mais feliz. Não no centro, de ruas calçadas e casas pintadas, onde mora desde novembro do ano passado. ( Por Juliana Colares, do diariodepernambuco.com.br )

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário