sábado, 30 de outubro de 2010

MUITA CAUTELA NO DEBATE FINAL

O excesso de cautela, o tom demasiado professoral e a ausência de
confronto direto tornaram morno o clima do último debate desta
campanha presidencial, promovido ontem (sexta-feira) à noite pela TV
Globo. No modelo adotado pela emissora, Dilma Rousseff (PT) e José
Serra (PSDB) foram sabatinados por 12 eleitores indecisos –
selecionados em todo o País pelo Ibope –, mas não puderam trocar
questionamentos entre si, ao contrário do debate realizado no início
da semana pela TV Record, marcado pela troca de desaforos.

Embora falassem de suas propostas de governo, tanto Dilma como Serra
foram pouco específicos na maioria das intervenções. Demonstrando um
certo temor de cometer deslizes nesta reta final, ambos se policiaram
muito, evitando atacar o oponente. Em certos momentos, uma ou outra
farpa ainda era inserida na resposta, na tentativa de lançar uma
provocação.

Serra, por exemplo, ao falar sobre saúde, criticou de leve a
"politização" da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no governo Lula.
Em outro momento, o tucano atacou os juros altos da gestão petista, e
mais além, ao afirmar que muitos casos de corrupção ficaram impunes
nos últimos anos, citou o chamado "dossiê dos aloprados". Em nenhuma
das ocasiões ele obteve reação por parte de Dilma, que preferiu falar
das suas propostas, elogiar o governo Lula e defender o discurso da
continuidade.

Mas a petista deu o troco ao afirmar que as ações de saneamento teriam
parado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) – do qual Serra fez parte como ministro – "porque nesse tipo de
obra não aparece o nome do político que fez". Em outra oportunidade,
ao falar sobre o programa Bolsa-Família, a candidata disse que no
Estado de São Paulo – administrado até pouco tempo por Serra – "quem
cuida de pobre é o governo federal". Segundo ela, 1,1 milhão famílias
paulistas estariam inseridas no Bolsa-Família, e o número não seria
maior porque o cadastramento é feito em parceria com o governo
estadual, insinuando que não estaria cooperando.

Para elaborar as perguntas aos presidenciáveis, a TV Globo selecionou
inicialmente 80 eleitores indecisos, dos quais 12 tiveram seus
questionamentos escolhidos e lidos por eles próprios diante do
candidato sorteado, que teve dois minutos para responder. Coube ao
adversário dois minutos para comentar a resposta e, em seguida, o
primeiro candidato recebeu mais dois minutos para a tréplica.

Entre os selecionados estava o comerciante pernambucano Josivaldo
Silva, dono de um mercadinho no Recife. Coube a ele fazer a última
pergunta do debate, indagando dos presidenciáveis seus planos para
reduzir o emprego informal e garantir aposentadoria para essas pessoas
que ainda não têm carteira assinada.

O final do terceiro e último bloco foi reservado para as considerações
finais dos candidatos. Antes, porém, o mediador William Bonner –
editor-chefe do Jornal Nacional – assegurou que o debate teria sido a
maior contribuição dada ao eleitor indeciso, a dois dias do pleito.

Ao se despedir, Dilma Rousseff insistiu que representa um projeto que
fez o País crescer, "com foco nas pessoas e não em números, cimento ou
tijolo". E num tom de desabafo, disse ter ficado triste em alguns
momentos da campanha por um "conjunto de calúnias" veiculadas contra
ela na internet, em panfletos e telefonemas. "Mas não guardo mágoas,
porque tenho leveza de alma", arrematou.

Com semblante visivelmente emocionado, José Serra se despediu do
eleitor oferecendo sua biografia e citando novamente sua origem
humilde, os 14 anos que passou no exílio e os cargos que ocupou ao
retornar. "Agora, podemos avançar muito. Dá pra fazer, com o pé no
chão, a cabeça no futuro e o Brasil no coração", concluiu. ( Escrito
por Sérgio Montenegro Filho, do Jornal do Commercio)

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