sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ENDOCRINOLOGIA

OBESIDADE ESTIMULA ESTUDOS

Brasil é um dos países que mais realizam pesquisas sobre cirurgia bariátrica. Pesquisadores da UFPE investigam como o procedimento interfere nos níveis de glicemia dos pacientes operados.

Cinthya Leite
cleite@jc.com.br



Não faz muito tempo, uma leva de pesquisadores percebeu que a cirurgia bariátrica seria uma alternativa e tanto para colocar a diabete num bom arranjo. Estudos clínicos (principalmente no Brasil) e vários casos reais têm mostrado que o procedimento não beneficia apenas os obesos mórbidos, mas também os que convivem com o sobe e desce da glicose. De fato, os médicos percebem que esses pacientes voltam a ter taxas de glicose regularizadas após a operação.


O lado bom dessa história é que os estudiosos desejam ir mais além na investigação dos pós e contras da cirurgia bariátrica. Eles têm notado que, quando bem conduzida, a gastroplastia traz mais benefícios do que se imagina. Só dá para perceber isso porque o rol de investigadores dessa área vai a fundo para colocar às claras por que a técnica tem devolvido bem-estar e qualidade de vida aos pacientes.

Pernambuco é um dos Estados pioneiros em pesquisa sobre cirurgia.

Uma prova de tanto empenho está num levantamento recente conduzido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), que destacou o Brasil como um dos países que mais estudam o procedimento.


Enquanto vários centros internacionais ainda estão na fase de desenvolvimento de protocolos científicos, os c i r u r g i õ e s brasileiros já vem realizando o procedimento para tratar a diabete em obesos com índice de massa corpórea (IMC) acima de 35, conforme regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM). É considerado IMC saudável até 24,9. O cálculo para se chegar a esse índice é simples: peso (quilos) dividido pela altura (metros) ao quadrado.


AVANÇO Há pesquisas sobre efeito da cirurgia em diabéticos que não são obesos mórbidos. A boa nova é que, no Estado, a situação é promissora. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo, é um dos mais pioneiros e produtivos núcleos de publicação de estudos. É o que garante o cirurgião Álvaro Ferraz, chefe do serviço de cirurgia do Hospital das Clínicas da UFPE e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).


Segundo o médico, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) deu autorização para o centro da UFPE dar andamento a um estudo que tem como objetivo avaliar a segurança e a eficácia do procedimento em quem tem a glicemia fora do compasso. "Através dessa análise, queremos perceber por que alguns diabéticos não respondem a essa técnica", informa. Segundo ele, cerca de 75% das pessoas submetidas à gastroplastia ficam livres de qualquer medicação e outros 20% deixam de usar insulina para controlar a glicose, ficando apenas sob uso de medicações orais. Esses percentuais foram apresentados pelo médico Vladimir Curvêlo, em dissertação de mestrado orientada por Álvaro.


O estudo que levaremos adiante será crucial para investigarmos porque há 5% das pessoas que não têm o resultado esperado com a operação. Para isso, vamos dosar alguns hormônios importantes como o GLP-1, cujo aumento estimula a produção de insulina, resultando na melhora ou até mesmo no controle total da diabetes tipo 2", enfatiza o cirurgião.


O custo de toda essa análise não é barato. Por isso, o grupo coordenado por Álvaro Ferraz está em busca de recurso que cubra as despesas, principalmente os gastos com exames (serão mais de 50 tipos). Os mais caros são aqueles que verificam como estão os hormônios. "Estamos confiantes e temos como perspectiva iniciar os trabalhos ainda em setembro deste ano."


A análise hormonal tem sido a chave de todo o processo porque os especialistas perceberam que, após a cirurgia, o controle da glicemia aparecia não apenas pela perda de peso, mas especialmente pelo fato de o procedimento interferir de maneira positiva em alguns hormônios como o GLP-1 - que, por sinal, não só estimula a síntese de insulina pelo pâncreas, como também aumenta a sac i e d a d e . Diante desse cenário, concluiu- se que a alteração hormonal também tem um papel fundamental no êxito do tratamento da diabete.


Vale destacar que há tipos de cirurgia comprovados como eficientes no controle da diabete. "Desse grupo, faz parte o by pass gástrico, que tem mostrado bons resultados para normalizar a glicemia", diz o cirurgião Walter França, que atua no programa da cirurgia da obesidade, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC). Outras técnicas aprovadas são a banda gástrica ajustável e as derivações biliopancreáticas.


"É importante salientar que a cirurgia para tratar a diabete não é uma técnica nova, como muita gente pensa. Trata-se de procedimentos que nascem de projetos sérios e passam por comitês de ética", acrescenta Walter. De acordo com ele, ainda não há trabalhos que mostrem vantagens em operar pacientes diabéticos com IMC abaixo de 30. "São necessárias mais evidências médicas e científicas para termos segurança em relação ao procedimento com essas pessoas", reforça.


De qualquer maneira, o Brasil já possui pesquisas que investigam como a cirurgia bariátrica podem beneficiar pacientes com diabete e sobrepeso, aqueles que têm IMC entre 25 e 30. O estudo liderado por Álvaro Ferraz, mencionado anteriormente, encaixa-se nesse contexto. "Vamos analisar de 30 a 60 indivíduos com essa característica", diz o médico


 

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