domingo, 23 de maio de 2010

HOSPITAIS DE OLHO NO CORAÇÃO DOS TORCEDORES

Pesquisa vai avaliar número de atendimentos em urgências cardiológicas
de seis cidades nos dias de jogos da seleção brasileira no campeonato

SÃO PAULO – Faltam poucos dias para o início da Copa do Mundo da
África do Sul. Mesmo que a equipe de Dunga não seja aquela "seleção
dos sonhos", o coração dos brasileiros vai bater mais forte e a
adrenalina vai subir quando começar o mundial. A emoção promete ser
forte, tão forte que a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) vai
realizar um levantamento inédito no País para avaliar os riscos de
problemas cardíacos nos torcedores durante os jogos do Brasil. A
finalidade é analisar a influência de um jogo dramático sobre a saúde
dos espectadores.

Em fase final de preparação, o levantamento, que será coordenado pelo
cardiologista Nabil Ghorayeb, diretor do departamento de cardiologia
do Esporte da SBC e responsável pelo Sport Check-up do Hospital do
Coração (HCor), deve envolver cerca de 200 profissionais da área.
"Serão selecionados de quatro a sete prontos-socorros de grandes
hospitais em seis cidades do País para a iniciativa", afirmou o
médico. As cidades selecionadas foram São Paulo, Porto Alegre, Rio de
Janeiro, Campinas, Belo Horizonte e Salvador.

"Nós vamos manter em anonimato os nomes dos hospitais para não
influenciar no resultado da pesquisa. E também para evitar uma corrida
a esses locais", diz o médico que revelou apenas dois deles, o HCor e
o Dante Pazzanese. "Não se trata de um estudo para o tratamento dos
torcedores, mas de um questionário que os pacientes e médicos de
plantão irão responder", frisa. Os principais eventos que serão
analisados são infarto do miocárdio, angina (pré infarto), arritmia e
derrame cerebral.

O envolvimento emocional do torcedor é determinante para o aumento do
risco. Em um momento tenso, o organismo libera noradrenalina, que
causa aumento dos batimentos e constrição dos vasos, aumentando a
pressão arterial. Esse cenário favorece de arritmias a parada
cardíaca, em casos mais extremos.

O cardiologista revelou que uma pesquisa semelhante foi realizada na
Alemanha durante a Copa de 2006. "Os trabalhos mostraram que no dia do
jogo da Alemanha houve um aumento de 30% a 40% nos atendimentos em
prontos-socorros em relação a doenças cardiovasculares agudas, como
arritmias, hipertensão arterial e até isquemia do coração."

A meta é obter dados de 5 mil pacientes. "Podemos tecer comparações
secundárias: nos jogos da primeira fase, a diferença pode não ser tão
grande. Já nos jogos decisivos, os problemas podem aumentar", estima o
cardiologista Álvaro Avezum, um dos pesquisadores.

RECOMENDAÇÕES

Para os torcedores mais afoitos – e principalmente para aqueles que
têm histórico de problema cardíaco –, Ghorayeb faz algumas
recomendações para evitar o estresse. "A mais radical é não assistir.
Mas se a pessoa insistir em ver os jogos deve evitar tomar bebidas
alcoólicas e bebidas derivadas de cafeína, pois elas funcionam como
estimulantes. Não fumar ou evitar ficar próximo a um fumante",
ressaltou.

Já os pacientes que usam medicação no fim da noite, o ideal é tomar o
remédio antes do jogo. "Mas é sempre importante conversar antes com
seu cardiologista". E acrescenta: "fazer uma respiração profunda de
seis a sete vezes também pode ajudar".

Com duas pontes de safena e uma mamária, o executivo de vendas e
corintiano Aércio Colombo, 60 anos, ouviu do médico que terá de se
controlar na Copa do Mundo – ou ficar longe da TV. Ele já foi parar
três vezes no pronto-socorro por causa de futebol, com pressão alta e
batimentos cardíacos alterados.

"Em dia de jogo, minha pressão sobe para 14 por 11 [o normal é 12 por
8], o coração vai a 110 por minuto, sinto até tontura", conta. Para a
Copa, Colombo pretende se controlar com algumas técnicas que
desenvolveu: sair para o terraço, descer na garagem do prédio, falar
abobrinhas. "Desta vez vou ser mais light. Quando o Brasil perdeu para
a França, dei murros na mesa, atirei meu radinho pela janela." - (Da
Agência Estado e Folhapress)

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