terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

POLÍTICA

A FACE ENRUGADA DO GOVERNO QUE JÁ NASCEU VELHO

O Dicionário da Língua Portuguesa/Acordo Ortográfico informa que apagão quer dizer "interrupção provisória do fornecimento de eletricidade a uma dada região". Na madrugada de sexta-feira, oito Estados do Nordeste atravessaram a madrugada na escuridão. Houve um apagão, certo?

Errado, repetiu nesta segunda-feira o ministro Edison Lobão. Cabelos e sapatos engraxados com igual capricho, voz de apresentador de circo, o canastrão maranhense recitou a fala que lhe coube no ato mais recente da ópera dos farsantes: "Não houve apagão. Houve interrupção provisória de energia elétrica". Quer dizer: embora tenha ocorrido seu significado, o substantivo não aconteceu.

O que ainda esperam os jornalistas para atirar pilhas de dicionários sobre a figura bizarra?, estaria perguntando Nelson Rodrigues. O que há com a imprensa que finge enxergar um ministro de Minas e Energia onde só existe o capataz do latifúndio mais produtivo da capitania explorada pela Famiglia Sarney?

Num país sério, um Lobão seria despejado do gabinete no meio da primeira frase cretina. No Brasil da Era da Mediocridade, é outro reincidente sem medo ─ e cada vez mais atrevido. Já não gagueja quando conta que, entre tantos assombros, o apagão foi expulso do país por Lula e proibido definitivamente por Dilma de dar as caras por aqui.

Submisso a todos os governos desde que se apaixonou pela ditadura militar, Lobão estreou no papel de doutor em eletricidade em novembro de 2009, escalado por Lula para justificar o blecaute que afetou metade do Brasil. Numa entrevista coletiva inverossímil, surpreendeu a nação com a versão espantosa: ocorrera apenas a paralisação da usina de Itaipu, provocada por trovões que ninguém ouviu e raios que não caíram.

Até então preocupada só com a própria imagem, a candidata que foi ministra de Minas e Energia entre 2003 e 2005 enfim se animou a entrar no picadeiro. "Nós também temos uma outra certeza de que não vai ter apagão", declamou. E o apagão da véspera?, intrigou-se uma jornalista. "Não confunda apagão com blecaute, minha filha", irritou-se Dilma Rousseff. Outra que merece uma tempestade de dicionários. Não sabe que apagão e blecaute são sinônimos. Ou finge não saber, o que é a mesma coisa.

"Apagão foi o do Fernando Henrique", ensinou. Errou de novo. Em 2001, o que houve foi racionamento de energia, decretado para evitar um grande e demorado apagão.

Ao compreender que a insuficiência de água nos reservatórios, a falta de chuvas e a escassez de investimentos se haviam conjugado para levar o sistema à beira do colapso, FHC fez um corajoso pronunciamento em rede nacional de TV.

Reconheceu os erros cometidos, não se intimidou com o desgaste político resultante do racionamento, transformou a questão em prioridade absoluta e encarregou uma força-tarefa da busca de soluções. Entregou a Lula um país iluminado. O sucessor repassou-o na penumbra. ( Do Blog de Augusto Nunes )

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