domingo, 11 de julho de 2010

HORA DE RESGATAR O DIREITO AO VOTO

A tragédia que se abateu sobre os municípios da Mata Sul, a exemplo de
Palmares, Barreiros e Água Preta, não deixou os moradores apenas sem casa,
água, comida, roupa ou energia elétrica. Em meio ao cenário de guerra, que
se tornaram as cidades, muitos moradores perderam documentos como certidão
de nascimento, título de eleitor, carteira de habilitação e cédula de
identidade, que foram levados pela força das águas. A luta agora não é
apenas para recuperar os bens materiais, mas também a cidadania dos
atingidos. Na busca pela retomada da rotina, os habitantes pouco se
interessam por eleições. "O difícil agora é exatamente conseguir recomeçar
depois de tanto sofrimento. Não consigo pensar no dia de amanhã, quanto
mais em eleição!", revela a professora Gilvanete Fonseca, 40 anos, 20
deles vividos em Palmares. Mesmo assim, há um esforço da Justiça Eleitoral
para que os eleitores estejam aptos a votar em 3 de outubro.

Encontrar o cartório eleitoral de Palmares não é uma tarefa das mais
simples. As ruas não dispõem de sinalização e a lama cobre toda a calçada.
A casa 354 está do mesmo jeito desde que a enchente passou. "Está do mesmo
jeito que foi deixado pela água. A juíza eleitoral não está na cidade,
está no Recife", contou o juiz local, Evani Estevão de Barros, que, além
de perder sua casa e todos os seus pertences, sofreu o trauma de ser
resgatado por barcos do Corpo de Bombeiros.

Na rua em que se localiza o cartório, apenas uma família voltou à
residência. Foi uma das mais atingidas. Através da janela, que teve o
vidro arrancado pela correnteza, é possível ver o mobiliário revirado, uma
televisão quebrada e um garrafão de 20 litros de água, item de primeira
necessidade para os moradores, intacto.

Sob a jurisdição do cartório eleitoral de Palmares estão 44.263 mil
eleitores e 20 locais de votação. Os três maiores, o Grupo Escolar Pedro
Afonso Medeiros, a Escola Municipal Monsenhor Abílio Galvão e a Secretaria
de Educação estão destruídos e cobertos de lama. Enquanto tentava tirar a
grossa lama da calçada de casa com uma vassoura e um pouco de água
corrente, a professora Gilvanete Fonseca de Barros conta que conseguiu
salvar seus documentos. Ela disse que pretende votar na eleição de
outubro.

"A água subiu muito rápido, mas como já estava escolada da enchente de
2000, consegui salvar os meus documentos, todos que estavam numa bolsa",
afirma ela, acrescentando que o local onde vota está completamente
destruído. "Só sobrou um pedaço da parede na escola onde eu voto".
Gilvanete Fonseca contou que está preparando a mudança. Vai embora de
Palmares. "Não posso com outra enchente dessa. A água subiu quase cinco
metros! Foi pior que a de 2000, muito", desabafou.

Apesar de a campanha eleitoral já ter iniciado oficialmente, Adriana Maria
da Silva afirma que nenhum político apareceu ainda pedindo votos. "Não é
possível que algum deles vai ter a audácia de fazer isso", bradou. Ela
salvou seu título e a carteira de identidade, de fundamental importância
desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que só é possível
votar portando documento com foto. Adriana está desempregada e reconhece
que só seu voto pode melhorar sua condição de vida e da cidade, mas ainda
não consegue pensar no assunto. "Nem sei onde vou votar. Minha sessão era
no Pedro Afonso. Mas lá caiu tudo, ficou só uma parede. Até as salas de
aula não existem mais", lamenta.

Situação semelhante vive o cortador de cana Ivanildo Pereira da Silva, 44
anos. Com a tragédia que se abateu sobre Palmares, atingindo as
plantações, está sem trabalhar. Enquanto catava restos de comida em frente
ao cartório eleitoral, explicou que votou nas eleições passadas, mas não
sabe se quer fazer o mesmo este ano. "Estou mais preocupado em voltar a
trabalhar e arrumar o que comer. Políticos não nos ajudam". ( Texto de
Bruna Serra na Folha de Pernambuco)


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