A ausência da presidenciável Dilma Rousseff (PT) do debate
realizado, ontem, pelo SBT Nordeste, com postulantes à
Presidência da República, permeou todo o programa. Cada um dos
participantes - José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de
Arruda Sampaio (PSOL) - se revezaram no ataque ao que chamaram de
"desrespeito e ingratidão" da petista com o povo
nordestino, além de atribuirem a ela os sentimentos "de
receio e medo" de enfrentar questionamentos sobre o
escândalo de tráfico de influência que derrubou a
ex-ministra Erenice Guerra do comando da Casa Civil. Conduzido
pelo jornalista Carlos Nascimento, o programa - que se
caracterizou pela proposta de discutir questões
específicas da região - também foi marcado por momentos
curiosos, repletos de provocações protagonizadas, em sua
maioria, pelo postulante psolista.
Em todos os blocos, os candidatos reafirmaram promessas que
assumiram durante o processo eleitoral. No primeiro bloco,
Serra, que deu o pontapé incial nas críticas à ausência de
Dilma, voltou a apresentar a proposta da elevação do salário
minímo ao valor de R$ 600. Já Plínio e Marina apareceram, nesse
bloco, no primeiro pequeno embate entre os postulantes. O
psolista questionou a passagem da verde pelo Ministério do
Meio Ambiente, quando, segundo ele, a senadora teria
abandonado bandeiras que defendera anteriormente como a
"revitalização real" do Rio São Francisco. Em resposta, Marina
chamou Sampaio de "desinformado".
No segundo bloco, em meio a perguntas dirigidas por
jornalistas do SBT, Plínio voltou a desferir suas tiradas. O
psolista, que em várias passagens se mostrou incomodado com
a formatação do programa, provocou os dois outros
participantes, atribuindo a seus partidos ligações com
figuras envolvidas em episódios de corrupção. Ponto
rejeitado pelo tucano, que lembrou que nenhum dos nomes
citados pelo psolista - os senadores Fernando Collor (PTB-AL),
José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL) - o apoiam neste
pleito.
Até o senador Marco Maciel (DEM), que foi prestigiar José Serra na
plateia do debate, foi combatido por Plínio. Ele disse que o
democrata simbolizava uma oligarquia que se mantém no poder
através dos anos. Fala criticada de pronto por Serra.
O terceiro bloco abrigou as dicussões mais propositivas do
debate. Marina centrou a Educação como o setor que deve receber
os maiores investimentos. José Serra prometeu ações em Saúde,
como a implementação de uma rede de policlínicas. Já Plínio
surpreendeu com a defesa da legalização da maconha como
mecanismo para o combate ao tráfico de drogas.
No último momento do programa, os candidatos responderam
questões elaboradas por internautas sobre Saúde, Saneamento e
Educação. Todos reafirmaram promessas de ampliação de
investimentos nos setores e Serra prometeu a criação do 13º
pagamento anual do Bolsa Família.
Propostas para o NE ficam em segundo plano
Com o objetivo de debater os problemas específicos da
região Nordeste, o enfrentamento de ontem dos presidenciáveis
não cumpriu seu propósito. Os três postulantes que
compareceram ao encontro, José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e
Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) não apresentaram sequer uma
proposta para atender a demandas específicas da região, como
o baixo índice de saneamento básico, ao analfabetismo entre
outras questões.
O único que ensaiou uma proposta mais específica para região
foi o tucano José Serra, que, mesmo após o programa, não entrou
em detalhes de como funcionará a Secretaria do Semiárido. O
presidenciável não esclareceu o funcionamento da pasta. "A
Sudene é o órgão que teoricamente deveria dar orientação aos
investimentos. Então vamos levar a Sudene para a Presidência da
República para fazer toda essa reformulação, se concluiremos
pela criação de um órgão subordinado à Sudene ou
independente. Isso é uma questão que terá de ser resolvida ao
longo dos primeiros meses de governo", afirmou.
Entretanto, foi a proposta de criar um 13º salário para o
programa Bolsa Família que causou inquietude aos adversários.
Com o encerramento do embate, ambos se ocuparam de rechaçar
a proposta, classificada como "eleitoreira". "Sinceramente
tenho muito medo quando as pessoas vão para o vale-tudo
eleitoral, aí o promessômetro não tem limites. Não conheço a
base dessa proposta, mas pelo volume de críticas que eram
feitas antes (ao programa) e a mudança repentina, não sei se
é digna de credibilidade" criticou Marina.
Plínio fez duras críticas ao programa que atende a 6,3 milhões
de famílias no Nordeste. "A transferência de renda feita hoje
pelo Bolsa Família é mínima diante do 'bolsa banqueiro'. Então
aumentar um pagamento não significa que será positivo. O
povo não gosta do Bolsa Família, o povo se vê obrigado",
contra-atacou o psolista.
Clima distinto nos bastidores da televisão
A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, foi a
primeira a chegar no estúdio da TV Jornal, seguida de Plínio de
Arruda Sampaio, candidato do PSOL, e do tucano José Serra. Do
lado de fora, um pequeno número de militantes do PSDB
aguardava o ex-governador de São Paulo, que chegou minutos
antes do início do embate e foi recebido com festa. O
candidato ao Governo de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMD), e o
senador Marco Maciel (DEM) assistiram ao debate nos
bastidores do estúdio. Os dois também foram ovacionados pelos
militantes ao chegarem ao local. O presidente do PSDB
nacional, Sérgio Guerra chegou após Serra e não assistiu ao
embate ao lado de Jarbas, ficando sentado do lado oposto ao
peemedebista, no auditório. E nem nos intervalos chegou a
conversar com o aliado.
No segundo bloco do debate, o candidato Plínio de Arruda
Sampaio reclamou das placas de controle do tempo para perguntas
e respostas. Ele disse que as mesmas o deixavam confuso e pediu
para retirá-las. No intervalo, a produção resolveu retirar
as peças e utilizar apenas o cronômetro, mas manteve as
indicações das placas para Marina e Serra, a pedido de ambos. A
cada intervalo, os assessores invadiam o espaço dos
candidatos para recomendações, observações e munir os
postulantes de informações. Enquanto o candidato ao Governo
pelo PSOL, Edilson Silva, prestava "auxilio" a Plínio,
assessores ajudavam Marina e José Serra.
Fora do ar, Plínio reclamava por não ter tempo suficiente para
concluir suas respostas e seus comentários. O candidato, por
várias vezes, arrancou risos da plateia e até dos concorrentes
com suas reclamações e observações. Nenhuma celeuma ocorreu
nos bastidores do embate. O clima permaneceu tranquilo do
início ao fim. Os candidatos trataram-se cordialmente. Marina
passou todo o debate em pé, enquanto Serra e Plínio, nos
momentos em que não apareceiam no vídeo, aproveitavam para
sentar. Só levantavam no momento de responder aos
questionamentos.
Marina: Governo não aprendeu com erros
Candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva voltou a
cobrar ontem investigação rigorosa da Polícia Federal, do
Ministério Público e do Tribunal de Contas da União nas
investigações das denúncias de corrupção na Casa Civil e nos
Correios. Durante curta caminhada pelo centro do Recife, no
início da tarde, a senadora lembrou que a ex-ministra e
presidenciável Dilma Rousseff (PT) assumiu a pasta em meio a um
escândalo de tráfico de influência. "Como é que nós tivemos
um caso grave, em 2005, de acusação de mensalão dentro da Casa
Civil e providências não foram tomadas para evitar novamente
a repetição de casos graves", disparou Marina.
Para a presidenciável, o Governo Lula tem por hábito focar
apenas nas coisas positivas e "não tem cuidado dos problemas
levando a repetição dos mesmos erros". "Temos que aprender com
o erro para que ele não se repita. E como se faz isso? Prevenção ao
desperdício, ao tráfico de influência e corrupção. Isso
indica que você tem uma atitude competente para aprender com
os erros", disse. Mesmo diante de sucessivos escândalos no
Governo do PT, Marina voltou a dizer que não participará do "vale
tudo" eleitoral.
Apesar das recentes pesquisas eleitorais indicarem vitória
no primeiro turno da presidenciável do PT, Dilma Rousseff,
Marina Silva ainda acredita numa virada na reta final de
campanha. "Vejo um movimento muito forte nas ruas para me levar
para o segundo turno. Tenho e certeza que, no dia 3 de outubro,
o Brasil terá uma grande surpresa", disse. Para a verde, "o que
existe nas ruas é muito maior do que os resultados das
pesquisas".
Acompanhada do candidato ao Governo do Estado Sérgio Xavier da
militância verde e demais integrantes da chapa majoritária,
a candidata chegou à praça Maciel Pinheiro, por volta das 13h, e
deu início ao ato cumprimentando comerciantes e vendedores
da rua da Imperatriz. A recepção foi calorosa e muitos
(evangélicos) revelaram que estão orando pela candidata. (
Da Folha Online)